sábado, 1 de outubro de 2011

Ser ou Ter, eis a questão 2! por Wagner Ortiz



Salvador Dali

Amigo Bira, parabéns pelo ótimo texto e sensibilidade. Essa que nos leva a meditar e perceber que temos de pensar em "ser", mesmo que essa ideia seja rejeitada pela atual sociedade que cultua o capitalismo globalizado. Nessa nova sociedade, dos homo capitalis, as pessoas são levadas por poucas detentoras de capital a acreditarem nas ilusões e fantasias em detrimento dos valores e da verdade, assim surgem os interesses de massa e a arte que é baseada na sensibilidade de "ser" se transforma na arte do "ter", muito inferior a arte de verdade. Como a função da arte é complexa e muito importante na história da humanidade, fazer dela instrumento do "ter" causa um desacordo muito grande com as Leis Superiores, consequentemente estaremos num mundo mais pobre, cheio de ilusões, com menos consciência, com culto ao "ter", um mundo voltado para fora, a tal ponto que as pessoas idolatrem seus próprios corpos, como é o caso da busca pela beleza física exagerada de hoje. As pessoas se esforçam em academias para ter um corpo "sarado", mas têm um espírito doente, pobre, e desse modo o número de casos de suicídio e depressão vão às alturas.


Meu querido, o "ter" arruína a formação das crianças, pois essa dominação pelo "ter" as deixa a cada dia mais iludidas, mais centradas para essas conquistas fúteis, então as novas gerações ficam distanciadas da verdade de "ser", consequentemente o caminho ao "ser" mais difícil, elas menos sensíveis, ou seja, um bola de neve. Essa ideia podemos apreciar no belo filme SER E TER, de Nicolas Phillibert.

Essa onda do "ter" é tão persuasiva que até quem deveria ter a direção oposta começa a aderir a ideologia, assim as criticadíssimas igrejas, sobretudo as evangélicas, que deveriam pregar o "ser" e levar as pessoas a refletirem voltando-se para os seus interiores, cultuam a "Mamom", à prosperidade, ou então a busca exacerbada pelo sobrenatural, o milacuroso, assim o "ter" é o tema principal, portanto a prática de pensar no outro, do amor, refletir, volta-se para o "ser" e é cada vez mais substituída pela mentira.

Ainda nesse caminho, essa conversa me fez lembrar duas coisas legais para complementar o assunto, primeiro que o primeiro filósofo a colocar explicitamente o conceito de ser foi Parmênides de Eleia (500 AC). Que já tratava do tema como um paradoxo da existência onde "É e não é possível que não seja - não é e é necessário que não seja". 

A outra é a relação do verbo SER com DEUS. O nome apresentado de Deus a Moíses foi Yahweh (Jeová) vem do verbo hebraico hayah, que significa “ser, estar, existir, tornar-se” e “acontecer”.

Cruzando as informações vemos a importância do conceito de “ser”. Para pensar melhor sobre essa relação, peço ajuda ao mestre judeu TZVI FREEMAN que passará explicar no artigo abaixo sobre a “fixação-nas-coisas” para entender o que é DEUS, ou seja, o que é “ser de verdade”. Acredito que quando entendermos de fato quem somos, iremos de encontro ao grande Ser que é Deus. Para quem acredita que aprender a SER é a lição mais importante vale a pena ler.

Teoria da “fixação-na-coisa”: Por Tzvi Freeman

Este é provavelmente, o principal desastre da sua infância – não ser desmamado, não ter deixado para trás as fraldas, não ter se sentado numa carteira na primeira série – mas quando você aprendeu sobre as coisas.

Não quero dizer “você aprendeu sobre as coisas do mundo.” Quero dizer, quando você aprendeu a ideia das coisas. Você aprendeu que o mundo é feito de coisas, objetos, itens materiais que simplesmente estão “ali”. Mais tarde na vida, você começou a correr atrás dessas coisas, acumulando-as, juntando mais e mais coisas para encher sua casa, seu quintal e sua garagem. Mas agora, o mundo inteiro foi reduzido em sua mente a nada além de um montão de coisas. Portanto, até mesmo D'us é definido como uma coisa – e você está tentando encontrar o lugar onde Ele encaixa. Porque, afinal, todas as coisas se encaixam em lugares. 

Quando você acordou para a vida como uma criança pequena, não era assim. Não havia coisas. Havia apenas a experiência de ser. Ou de sentir, de viver, respirar e fazer. Gritar, mamar, arrotar. Essas eram todas coisas reais. Essas são vida. As coisas não são reais. Coisas são ficção. Elas não existem. Nós as inventamos.

O Nascimento das CoisasComo as coisas surgiram? 

Eis aqui minha ideia sobre isso.

No princípio, não havia coisas. Toda a humanidade conhecia a vida como o faz uma criança pequena, ate à medida que elas ficam mais velhas e mais sabidas. Mas então alguém entrou em sua cabeça e desenhou todas as coisas que ele tinha. Por fim, os desenhos se tornaram hieroglifos, um recurso esperto para a comunicação esotérica. Os amantes do hieroglifo – como os sacerdotes de culto do antigo Egito – criaram milhares de hieroglifos para representar todas as coisas que o faraó estava acumulando. Logo a ideia evoluiu para a linguagem falada, também: a ideia de uma “coisa” – um instantâneo estático de uma coisa qualquer num momento congelado no tempo. Nasceram as coisas. E o mundo nunca mais foi o mesmo.

Provas? Porque no antigo hebraico bíblico, não há palavras para coisas. Ou coisa. Ou objeto nem algo semelhante. No hebraico primitivo, puro, você não diz: “Ei, onde está aquela coisa que eu coloquei aqui?” Você diz: “Onde está o desejado (chefetz) que eu coloquei aqui?” Você não diz: “Onde está aquela coisa?” – você diz: “Onde está aquela palavra?” Isso é o mais próximo que você pode chegar da ideia de coisa: uma palavra.

Tudo da realidade é feito de palavras. Olhe na história da Criação: O total do céu e da terra não é nada além de palavras.

Na verdade, no antigo hebraico, também não existem substantivos. Em idiomas como o inglês, os substantivos são os amos e os verbos são seus escravos, com adjetivos e formas associadas dançando ao redor para servi-los. Em hebraico, os verbos dominam. Grande, pequeno, sábio, tolo, rei, sacerdote, olho, ouvido – todos esses soam como coisas, mas em hebraico são formas de verbos. De fato, segundo Rabino Yeshayahu Horowitz (1560?-1630), autor do clássico Shnei Luchot HaBrit, tudo em hebraico é realmente um verbo. Tudo é um evento, um acontecimento, um processo – fluindo, movendo-se, nunca estático. Exatamente como quando você era uma criança pequena.

Em hebraico, não existe sequer um tempo presente. Há particípios, mas a ideia de um tempo presente somente surgiu mais tarde. No hebraico real, nada jamais é – tudo é movimento.

Isso se encaixa, porque o hebraico não foi escrito em hieroglifos. O hebraico foi o primeiro idioma que sabemos ter sido escrito com símbolos que representam os sons, não as coisas. Com o alfabeto hebraico – a mãe de todos os alfabetos – você não vê as coisas, você vê os sons. Até o processo de ler é diferente: quando você lê os hieroglifos, a ordem não importa tanto. Você apenas olha e tudo está ali. Até os hieroglifos do chinês moderno podem ser escritos em qualquer direção. Com um alfabeto, a sequência é tudo. Nada tem significado por si só. Tudo está no fluxo.

Pegue o Fluxo

O fluxo é real. As coisas não são reais. Pergunte a um físico: quanto mais examinamos as coisas – aquilo que eles chamam de matéria – vemos que não está ali. Tudo que realmente está ali são os eventos: ondas, vibrações, campos de energia. A vida é um concerto, não um museu.

Pense sobre escrever música, em oposição a pintar um retrato. O artista que pinta dá um passo para trás e contempla sua arte, sua reprodução imóvel de um momento congelado – e ele vê tudo de uma vez. Então ele pede educadamente ao modelo que por favor, volte à pose que estava fazendo, que agora se torna a principal realidade, o retrato. Um retrato daquilo que é, mas nunca foi.

Um compositor de música não pode fazer isso. Você não pode congelar um instante de música – ela desaparece assim que você tenta fazer isso. Como as coisas fictícias que chamam de matéria: congeladas no zero absoluto, sem energia, sem movimento, não existe mais. Porque na verdade, tudo que existe é o fluxo de ser.

O Nome

O fluxo de ser: agora você encontrou D'us. De fato, em hebraico, este é o Seu Nome. O Nome de D'us é uma série de quatro letras que expressam todas as formas do verbo de todos os verbos, o verbo ser: é, foi, sendo, será, a ponto de ser, fazendo ser, deveria ser – todas essas estão naquelas quatro letras do Nome de D'us. Como D'us disse a Moshê quando ele perguntou Seu Nome: “Eu serei aquele que Eu serei.”

Em nossos modernos idiomas, aquilo não funciona. Escorregamos rapidamente para a armadilha das coisas novamente. Quem é D'us? Respondemos: “Ele é Um que foi, é e será.”

Aqui vamos nós com a “coisa que é” novamente. Não, D'us não é uma coisa que é, foi ou será. D'us é em si mesmo. Uau! A frustração da linguagem. Precisamos de novas palavras: Endo, Serzice. Coisice. Coisificador. Em hebraico você pode conjugar o verbo ser em todas essas maneiras e outras. Talvez um dia em português, você faça o mesmo. Até então, somos como artistas usando as cores para imitar Rembrandt: como músicos tentando tocar ritmos do oriente médio em Dó Maior temperado.

E a prova: fazemos perguntas que somente têm sentido em português, mas em hebraico são totalmente absurdas. Como: “D'us existe?” Em hebraico, isso é uma tautologia, de alguma forma o equivalente a “A existência existe?”

Não há necessidade de “acreditar” neste D'us se você sabe sobre o que estamos falando, você simplesmente sabe. Você saberá, também, que não há nada além desse D'us – o que há além do ser?

Quando à fé e crença, essas estão reservadas para coisas maiores. Como acreditar que essa grande Serzice que tudo faz sabe, tem compaixão, pode entender. Em outras palavras, dizendo que a realidade é uma experiência carinhosa. O que reduz a dizer que a compaixão é real, o propósito é real, a vida é real. Isso é algo que você tem de acreditar. Mas a existência de D'us – como a maioria das ideias sobre as quais os homens debatem – é apenas uma questão de semântica.

Pense simplesmente: Você acorda pela manhã e, antes mesmo do café, há. Realidade. Existência. Não “as coisas que existem”, mas a existência em si. O fluxo. O infinito fluxo de luz e energia. De ser, da existência. De é. Pense em todo aquele fluxo num único ponto, perfeito e simples. Entre nele, fale com ele, torne-se um com ele – isso é D'us. 
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