sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Diapasão

Foto:www.macrosul.net/produtos/diapasao.php


Essa palavra DIAPASÃO soa estranhamente em certos ouvidos, apesar disso ela é comum aos músicos, se bem que nos últimos anos com o advento da tecnologia digital a palavra vem sendo esquecida aos poucos, assim se usa substituí-la por AFINADOR. Entretanto, a palavras em si pode assumir vários significados como indica o dicionário Michaelis:

Di.a.pa.são
sm (gr diapasôn, pelo lat) 1 Totalidade dos sons praticáveis em cada voz ou em cada instrumento. 2 Pequeno instrumento de aço que dá uma nota constante e serve para por ele se aferirem as vozes e instrumentos músicos. 3 Nota estabelecida fixamente pelo instrumento descrito acima. 4 Flauta diminuta com palheta, para aferição de vozes; lamiré, alamiré. 5 MúsUm dos dois registros de fundação principais do órgão, que se estende através da escala completa do instrumento. 6 Tom (no sentido próprio e figurado).

Na segunda definição do Michaelis é o nome dos objetos da foto inicial, ou seja substantivo. Essa forquilha de metal foi inventada em 1711 pelo alaudista inglês John Shore. A palavra vem do prefixo grego διά. Assim como na palavra DIA, esse prefixo indica uma divisão, um intervalo, ou funciona como uma preposição igual a "através de", "por meio de", etc.  PASÃO, do grego παντός + pantós, quer dizer TODOS. Porém a palavra διαπαντός = δια παντός (diapantós = diapasão) parece indicar uma tradução POR TODOS. Assim, podemos entender a tradução mediante a função do diapasão, que é servir a todos de um som perfeito como referência. Daí a primeira definição do Michaelis, quando todos estão afinados pelo mesmo diapasão, ou frequência que esse produz.

A palavra também pode ser entendida com "frequencia-padrão", como vimos que servirá de referência para afinação de todos instrumentos. O problema foi a concordância dos músicos do valor dessa frequência-padrão, assim podemos notar que durantes os séculos cada país, ou região, tinha sua preferência. Além disso, os construtores de instrumentos também tinham suas preferências, o que resultava em instrumentos com diversas afinações.

Essas modulações podem ter ocorrido pelo fato de os construtores na procura de um som mais brilhante e para valorizar o instrumento, assim se justifica tendência da subida da frequência-padrão. Também, se considera as problematizações matemáticas, que levam os teóricos a escolher para padrão números que lhe são cômodos. Assim, verifica-se que antes da chegada do aparelho em 1711, havia discrepâncias de uma quinta, o que tornava obras antigas difíceis de cantar, e mesmo depois da sua invenção se verifica diferenças de um tom. Assim, o que hoje se diz Sinfonia nº 40 em Sol menor de Mozart, se ouve Sinfonia nº 40 em quase Sol# menor, pois o Lá de Mozart era fixo em 422 Hz, enquanto nosso Sol# é de 415,30.

Os franceses foram os primeiros a tentar normalizar o diapasão, fixando-o em 435 Hz (Lá3) em 1859 e a última tentativa concordância foi com a Conferência Internacional de Londres que o estabeleceu em 440 Hz (Lá3) com tolerância de +/- 0,5, essa obteve sucesso até o início do século XXI, porém nos últimos anos a tendência foi subir mais, assim se verifica a preferência pelos músicos que tocam instrumentos de sopro, principalmente flauta, clarinete e sax, o uso do Lá 3 em 442-444 Hz.

"Terá realmente subido o diapasão e em que proporções desde há cem anos?"


Essa linha foi publicada no Journal des Debats, um artigo de Berlioz, que discutia essa inconstância do diapasão. Ele dizia que essa mudança causava o impedimento de juntar as orquestras e grupos de outras regiões, pois a afinação não seria satisfatória. "Como seria possível as orquestras compostas por setecentos a oitocentos músicos que me aconteceu dirigir tantas vezes nos vastos locais dos Campos Elíseos". " O disparate dum tal resultado basta para demonstrar a importância da medida". Assim defendia Berlioz a medida de unificar de maneira internacional o diapasão.

Os Lás nos últimos anos:

1495 - Catedral de Halberstadt -    506 Hz (hoje o SI tem 493,88 Hz)
1511 - Schlick - Heidelberg      -    377 Hz (hoje o Fa tem 369,99 Hz)
1636 - Mersenne: tom de câmara - 563 Hz (hoje o Do#4 tem 554,37 Hz)
1648 - Espineta de Mersenne -       403 Hz (hoje o Sol tem 392 Hz)
1700 - Paris                                   404 Hz
1751 - Handel                                423 Hz
1780 - Mozart                                422 Hz (hoje o Sol# tem 415,30 Hz)
1810 - Paris                                   423 Hz
1856 - Berlioz                                449 Hz (hoje o Lá varia entre 440-444 Hz)
1859 - Estado - Paris                     435 Hz
1863 - Helmholtz (físico, teórico    440 Hz
1953 - Conferência de Londres     440 Hz
2010 - Músicos de sopro              442 Hz
2010 - Físicos                              426,7 Hz

Afinadores Modernos


O uso desses aparelhos começaram a se fortalecer depois de 1990, quando o uso de aparelhos eletrônicos começaram a vigorar com maior intensidade. Trata-se de um frequencímetro digital ou analógico, aparelho que oferece uma escala completa de som, e alguns captam sensíveis mudanças da frequencia e permitem a mudança do diapasão-padrão para qual for a preferência do músico.

Digital

Analógico

Via Sofware

Outros:
Afinador On-line



Referências

Candé - A música - linguagem, estrutura e instrumentos
Grove - Dicionário
Hindimith - Teoria Elementar para músicos
Lineto - Tábua de Alturas
Larousse - Dicionário
Michaelis -Dicionário


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